Ligações profissionais e a dimensão adaptativa do Burnout

Parece-lhe um título estranho? Já explico tudo.

A constante pressão por resultados, o stress dos prazos apertados, a enorme competitividade e conflitos entre colegas na empresa, esgotam, cansam e podem levar-nos a ficar exaustos, podem levar-nos até à Exaustão emocional.

Esta é uma das dimensões do Burnout provocada por stress profissional intenso e continuado. No que resulta? Em baixas médicas e taxas elevadas de absentismo nas empresas. No que resulta? Custos elevados para pessoas e empresas.

A Exaustão emocional ocorre quando os trabalhadores se sentem assoberbados pelo trabalho e está relacionada de perto com o absentismo”

Mas o que é então o Burnout? O que podemos fazer por nós e pelas empresas?

O Burnout é um estado de exaustão física, emocional e mental essencialmente relacionado com o trabalho. Manifesta-se por falta de motivação, baixa eficácia, por uma sensação de incapacidade de fazer melhor e ausência de realização profissional. É essencialmente uma corrosão da motivação, um desgaste emocional significativo e tem impacto na saúde física, psicológica com sintomas que vão da ansiedade, às insónias, a doenças cardiovasculares, autoimunes e à depressão.

O peso económico para todos é elevado pois o absentismo, o turnover,  a baixa produtividade e o aumento de despesas com saúde, e seguros provocados pelo Burnout e stress profissional comportam perdas e custos elevados.

Um dos fatores de risco de Burnout é a incompatibilidade entre necessidades e expectativas individuais e as características, exigências e oportunidades das funções.

Se preciso, para me sentir bem, de me relacionar com pessoas, mas na minha função estou sempre fechada num gabinete a fazer contas, não vai correr bem! 

Por muito que goste da tarefa, necessito mais e vou desmotivar. Se valorizo o sentido de pertença a uma equipa e a existência de relações interpessoais positivas e não o protagonismo, não me sinto realizada fechada num gabinete sem contacto com ninguém ou a liderar uma equipa. Se gosto de assumir responsabilidades elevadas e de assumir a gestão e coordenação de uma equipa ou projeto, sinto-me mais realizada se a minha função permitir aplicar este tipo de competências ou pelo menos o permitir ambicionar enquanto oportunidade de carreira.

Se estas incompatibilidades são constrangimentos ao bom desempenho, a pressão e o stress elevados destroem os recursos pessoais e, podem levam a uma menor vontade de estar com colegas, de trabalhar em equipa e de ajudar os outros. Mesmo quando estamos alinhados com as nossas motivações, necessidades e função com pressão e stress constantes corremos o risco de nos cansarmos (exaustão), de nos desinteressarmos (distanciamento cognitivo) e de não nos sentirmos motivados (baixa auto-realização). O nosso trabalho corre o risco de ser menos preciso e mais lento, ou seja, menos produtivo e corremos o risco de Burnout.

Cada dimensão do Burnout tem o seu impacto específico no nível de desempenho e das relações sociais, e as 3 dimensões relacionam-se entre si. O Burnout começa com a exaustão emocional que contribui para aumentar o distanciamento cognitivo e que contribui para a perda de eficácia.  A Exaustão surge do elevado confronto, desafio, pressão e exigência no trabalho e resulta numa redução de energia e de recursos, com fadiga emocional e física,  que conduzem a um processo de distanciamento, indiferença e desinvestimento pelo  trabalho, colegas e empresa,  o que leva à diminuição da eficácia profissional e da auto-realização. É possível que cada pessoa experiencie estas dimensões de forma diferente tendo em conta as suas condições laborais específicas. 

Enquanto que a exaustão emocional está relacionada de perto com o absentismo, o distanciamento cognitivo é o preditor mais poderoso para o turnover.

Curiosamente uma das dimensões do Burnout, o distanciamento cognitivo surge inicialmente como uma forma de proteção num contexto que é adverso. Se nos distanciarmos um pouco, não nos deixamos afetar com a mesma intensidade pelos constrangimentos do trabalho, dos colegas e da empresa e conseguimos lidar melhor com o stress profissional. Não podemos impedir que chova, mas podemos decidir como nos vamos proteger da chuva, de gabardine, galochas e chapéu de chuva ou só com um casaco de malha. A forma como como protegermos quando sairmos à rua determinará a exposição que temos ao temporal, ao mal-estar e até mesmo à doença.

Mais protegidos mais saúde, mais expostos maior risco de doença.

O distanciamento cognitivo acaba por mediar a relação entre a exaustão e a ausência de realização profissional funcionando como uma estratégia de coping,  quando moderado,  e uma forma de protecção destes factores adversos e de perturbação. Pode ser uma forma de lidar com as influências negativas da exaustão e da falta de realização e  o nosso chapéu de chuva contra o temporal do stress profissional.

Um determinado nível de distanciamento cognitivo, bem gerido e controlado, melhora o desempenho das tarefas e o comportamento social.

Empresas e colaboradores poderão encontrar meios mais económicos de reduzir a exaustão emocional e a ineficácia profissional, se se sentirem encorajados a explorar níveis de distanciamento cognitivo adequados como estratégia de protecção e de prevenção do Burnout.

 E então o que podemos fazer? Como nos podemos proteger?

Guerra ao Burnout

  • Um bom “match” entre as nossas necessidades e as características da função.
  • Job crafting – enriquecer o nosso trabalho com o que nos dá prazer e motiva (acrescentar atividade em equipa num trabalho mais isolado)
  • Desenvolver a auto-eficácia na gestão das emoções , recurso importante na gestão do stress profissional.  É possível fazer um trabalho de restruturação cognitiva relativamente às crenças de auto-eficácia na gestão das emoções.
  • Sabendo que a perturbação de sono é um fator de risco de burnout, pôr as “insónias a dormir”
  • Gerir preocupações e Ruminações. dois modos de pensamento centrais a sintomas depressivos e ansiosos e que é fundamental corrigir para repor saúde e bem-estar.

Vamos fazer Guerra ao Burnout? Vamos substituir exaustão por vigor, distanciamento por dedicação e ineficácia por eficácia.

Oficina de Psicologia
Foto: Daniel Bradley

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