Entrevista Manuela Brandão

Texto: Paulo Amado
Foto: Humberto Mouco

É sempre tempo de celebrar o Pap’Açorda, a Manuela, o Fernando e uma Lisboa que vence no tempo. 

O que é o tempo? A conversa com Manuela Brandão, a menina que chegou à cidade para governar a sua vida, faz-me pensar justamente no que é a vida. Aquilo que dela conseguirmos fazer, as circunstâncias.  

Eram outros tempos. Vejo nas fotos que a Manuela mantém o sorriso, compreendo na conversa que faria tudo de novo.  

No nosso tempo, é uma musa escondida que o lançamento do livro dos 40 anos do Pap’Açorda ajudou a conhecer melhor. E bem. Claro que muita da gente da gastronomia e das artes a conhecia. É fundamental na cidade de Lisboa, faz parte de um nicho avançado no tempo que uma cidade constipada pelo turismo parece não destacar o suficiente. Não há medalha de mérito, tardia, que venha reconhecer o valor do Pap’Açorda. Eles são parte da viragem da antiga Lisboa cinzenta à qual ajudaram a dar cor. Nem precisam da chave da cidade, eles são a Lisboa multicolor e aberta.  

Parabéns, Manuela, Parabéns, Fernando, DEP os idos fortes que montaram a empreitada ao Bairro Alto. O Mercado da Ribeira tem pedras preciosas no primeiro andar.  

Fala a mulher forte, ouço também a menina deslumbrada. Fala o tempo, ouço o futuro. 

Como viste a mudança que o turismo trouxe a Lisboa? 

Para o nosso trabalho — para o trabalho de quem tem o restaurante — é bom ver outro tipo de pessoas a vir experimentar, a saber o que é. Por outro lado, acho que é um bocadinho exagero. Devia ser um turismo mais cuidado. Temos muito turismo, é verdade, mas só 25% vai aos restaurantes. O resto, é um turismo mais jovem que vem já com tudo pago e que vai às pizzas, aos hambúrgueres. 

O que que é mais seguro?  

A comida portuguesa. Há uma certa idade do turismo que eles próprios vêm à procura da comida típica portuguesa. E os portugueses que podem, que estão cá, que ainda moram em Lisboa, também querem a comida típica portuguesa.  

Nunca sentiste que a comida portuguesa pudesse estar a ficar fora de moda?  

Senti que poderia estar a passar de moda aí há cerca de 18 anos. Julgo que foi quando começaram a haver mais aberturas de restaurantes japoneses. Houve uma euforia do sushi! Entretanto, acabou. Há restaurantes de sushi, que são bons, e eu também adoro, mas aquela moda já não existe. A comida portuguesa mantém-se sempre. Acho que, agora, há espaço para todos.  

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